Citações

- William Shakespeare

domingo, 25 de agosto de 2013

À frente



Vejo-o outra vez, então!
Como um forte tormento.
Novo pecado ao remido.
Vem à memória,
E enlouquece os sentidos.
Traz-me outro desalento,
E rumo perde minha história.

Tal és, como um cão!
E como do céu, alento.
Por algo a vezes temido,
Ou alegria do outrora...
Por tantos já vivido.
Verdade... És tormento!
Não sei o que és por hora.

No fim, foste remissão.
Trouxe contentamento.
Mas de novo visto,
Tantas batalhas  renovas...
A guerreiros já vencidos.
Alegro-me neste lamento...
Entristece a alegre aurora!

De certo, és afirmação,
À um novo questionamento.
Inalcançável infinito.
Velho e novo estória.
Cotidiano do já ocorrido,
Presente a todo momento,
Te anseiam minhas mãos agora!



by Calado

sábado, 24 de agosto de 2013

A busca




Enfim... Busco meu coração.
Ou a razão que deve ocupar o lugar.

Busco uma triste emoção,
Uma maiori sapientiae para me ensinar.

Busco um passado ilusão.
Uma dor para me matar.

Corro atrás de fogo e carvão...
E do frio para me acalentar.

Busco, busco, decepção!
Minha vida é tão somente buscar.




by Calado

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Manhã de quinta



A luz refletida na bruma,
Leva-me a luz outrora vivida.
Do naufrágio de doce querida,
Dormindo em memória turva.

Sem retirar lâmina alguma
Desta alma pelos cortes vencida,
Revejo o memento da partida...
Desejo fechar de olhos, durma.

Nos sons da cidade hoje morta,
Ouço o passado de minha vida,
Como um triste e lento pulsar.

Na luz de uma manhã - Senhora!
Ainda lembro do dia da partida,
Na qual vi o amor se despedaçar.




by Calado

domingo, 11 de agosto de 2013

Habitante da janela



De uma janela à outra,
Em uma sala vazia.
Vendo vida viver avarias,
Fita correr o vento.
No chão vermelho,
Triste e sangrento:
Coração exprime-se por porta.

Uma muda de roupa.
Para artificial alegria.
Troca de mascara dia à dia,
Perda de tempo!
Movimento de ponteiro...
Sim, Senhor, Sargento.
Coração servido em torta.

E a fera corre à solta,
Pela rua da'gonia.
Onde a pele arrepia...
De lá, vem o lamento.
E o céu inteiro,
Lhe é bronze e tormento.
Coração mora em revolta.

De uma janela à outra,
Fita a rua dia à dia.
Assim da vida se estia,
O que lhe resta de sereno.
Passam, pessoas, passeios,
Casa, concreto, isolamento.
Peito de janela, não há portas.





by Calado

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Que se foi



De um lado à outro,
Do lago de amor de meu coração.
Mergulho na dor e na solidão,
De não ter o calor de teu corpo.

Perco o toque e o gosto,
Esqueço bendita e linda oração.
Aos poucos, vai-se também teu rosto.
Já não sinto o calor de tua mão.

Abre-se a fenda em meu peito,
Expondo, a lacuna de tua partida;
Me vem a mente entrelaçar de dedos.

Por angustiar-me a vida,
Mergulho no lado de mim mesmo.
Me sobrando só esta doce ferida.



by Calado

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Então jaz



Por que ei de receber brutal supremacia?
Eu, que da ignorância carrego o fado,
De existências míseras e curtas.
Pago em alma opróbrio de alheio pecado,
Regozijado somente em minha agonia.

Acaso, de fortuna lhe veio alegria
Tão mais doce que aos homens ao seu lado?
Por que não vejo tal virtude, ocultas?
Só Pandora, a trazer mal grado;
Braços dados à prole: pânico e agonia.

És Eva, que ao trazer o pecado sorria,
Da má graça a que Adão seria fadado.
Teu saber e conhecimento a mim insulta.
É efêmero, inútil, arco não retesado.
Nesta guerra, só a morte lhe aguardaria!

Conhecimento lhe apraz,  falta-te sabedoria!
Guerreiro pobre, frágil e desalmado,
Do conflito só lhe serve a tortura.
Apenas vejo um bosque que agora árido,
É escuro, frio, inóspito para amor e a alegria.




by Calado


segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Ruminal



Que é esta faca,
Que agora fere-me?
Que faz esquecer-te
Do tempo despendido.
Vais agora me matar?

Que é a palavra,
Se não sopro breve?
E logo perecem...
Ficará o rancor terrível,
Vens agora encarar?

Que tua capa,
É manda de dor celeste.[?
Que sofres e mais queres.
Ainda conselho amigo;
Preferes definhar?

Rumino como vaca!
Tu somente perece.
isto não merece:
Lealdade de guerreiro antigo.
Já pode teu sepulcro habitar.

Pois sou como roca,
Sou fiar onde se tece,
Seda-sabedoria mais leve.
Agora coração ressentido.
Teu sofrimento pode se afogar.


by Calado

domingo, 4 de agosto de 2013

Inconstância



Chamar-me onda é pouco.
Chama-me mar ou céu...
É apenas risco de pincel.
Multicor, aquarela de tolo.

Chamar-me treva é pouco.
E da luz, infeliz Miguel.
E então deixo eu, os céus
E a terra aos loucos.

Enfim, já não me encontro,
Nem no ultimo cântico,
Que agora entoei.

Existo e me transponho.
Do sofrer ao acalanto,
Onde já não posso viver.



by Calado